Um passeio pelo mercado
Em qualquer cidade, o mercado é uma visita obrigatória. Quando conheciSantiago do Chile (em plena era Pinochet), o de lá era um show, largosespaços tomados por profusão de frutos do mar, em variedade que somentena Espanha havia visto. Há cinco anos, de volta à capital chilena, tirei um final de manhã para rever o mercado. Que decepção! Das bancas depescados, nem sinal. Toda a autenticidade do lugar fora substituída porrestaurantes, cada qual com um cidadão à frente apregoando suas especialidades, os turistas sendo caçados peloscorredores, as maravilhosas centollas cotadas a algo em torno de US$ 100,00 a unidade. Fomos embora.
Corta para Porto Alegre. Este colunista é daqueles que raramente vão ao Centro. Quando isso é necessário, acabatransformando a obrigação em passeio turístico, por uma área que tem seus encantos e volta a se valorizar nacidade. O Mercado Público Municipal continua um prédio bonito, movimentada área de bancas no térreo circundadas(interna e externamente) por restaurantes. Eles também estão no andar superior, com acesso por escada rolante e um terraço que faz as vezes de praça de alimentação.
Foi onde sentamos, atraídos pela “tainha na barca” anunciada como opção ao bufê do restaurante Marco Zero. Elaestá na primeira foto, ainda íntegra – em seguida o garçom mostrou competência ao remover cirurgicamente os filés–, cercada por camarões em pirão e batatas, escoltada por arroz branco e salada. É o tipo do peixe que ficariamelhor se assado, mas tudo bem. Preço: R$ 59,90, incluído couvert. É engraçado quando se pede a nota: o garçomolha o que assinalou na comanda, faz a conta (“firme em cálculos”, como se requisitavam os balconistas deantigamente) e escreve apenas o total em um papelzinho, ocultados os justos 10% do serviço.
De volta ao térreo, não resisto a uma espiada no Naval, todo reformado, piso bonito (foto 2), com mesas também emárea contígua, aberta. Percebe-se que tenta escapar da fama de bar e anuncia variadas opções de bacalhau comoprato das sextas-feiras.
Aí, vamos às compras. Os corredores fervilham, em qualquer banca se retira um tíquete numerado, em respeito àordem de atendimento. Lindos lombos de bacalhau, cortados em medalhões são expostos junto ao corredor. O rapaz(foto 3) explica pacienciosamente a um casal por que vale a pena pagar R$ 79,00 por quilo desse corte de GadusMorhua – e vale mesmo, o aproveitamento é total e dessalgado o peso do peixe aumenta (“cresce 40%”, assegura).Mas estou perseguindo um pastrami que degustei em casa de familiares, alegadamente da Banca 38.
A primeira estranheza foi quando o atendente informou que o pastrami ficava “em outro lugar”, debruçou-se sobre obalcão e gritou para o lado esquerdo do corredor “me manda o pastrami”. A segunda foi a demora em fatiar, longosminutos em máquina elétrica. Mas surpresa mesmo foi em casa, quando abri o pacote e deparei com o tal “pastrami” (veja a foto 4): apesar da etiqueta, tratava-se de um carpaccio. Daí a demora: o carpaccio precisa estar congeladopara permitir fatiar em lâminas.
Não tenho sorte no mercado.