O melancólico fim do Pagoda
Apesar de tudo, não nego que foi doloroso passar pela sede do Pagoda e ver aquela fria placa. “Aluga-se”, dizia simplesmente. Portas cerradas, um certo ar de abandono, uma morte silenciosa e até esperada para um restaurante que foi o mais famoso chinês da cidade. Esse “apesar de tudo” no começo do texto corresponde a algo que era praxe no serviço da casa: a conta não era pedida, vinha com a sobremesa ou até antes, trazida pelas apressadas garçonetes, que permaneciam ao lado dos comensais esperando o pagamento, mesmo que ainda estivessem mastigando ou bebendo.
Provavelmente era ordem do proprietário, o Seu Tong, que como este colunista e outras figuras ligadas à gastronomia, viraram personagens de uma honrosa crônica em verso de Luiz Fernando Verissimo, à época em que escrevíamos para o mesmo jornal. O festejado escritor, aliás, era assíduo frequentador do Pagoda: às quintas-feiras formava uma mesa de almoço da qual participavam o Goida (crítico de cinema) e outros colegas deles na MPM, então a maior agência de publicidade gaúcha.
O deselegante costume de remover clientes gerava enxurradas de reclamações ao colunista que não deixava de publicá-las. Mas havia fortes razões para que o Pagoda tivesse permanentes filas de espera: a culinária chinesa, ainda que os mais jovens tenham frouxos de riso, era o que havia de mais exótico na gastronomia porto-alegrense e a cozinha da casa era eficiente, preparando pratos que hoje seriam triviais até em praças de alimentação: camarões apimentados, frango xadrez com pimentões, filé de peixe com gergelim, ou ao molho de ostras sem ostra alguma, arroz chop suey, isso tudo era atração. Explica-se: os restaurantes chineses de então eram os japoneses de agora – estavam na moda.
O Pagoda saiu de cena depois de ver o Lokun, pioneiro na especialidade (na Venâncio Aires, onde está o Bar do Beto), Mandarim (Cristóvão Colombo), Nanking (Protásio Alves), mais recentemente o Fuial e outros fecharem, engolidos pela febre da comida japonesa. Dois de ótima cozinha – Thongai e You Yi – ainda resistem. Mas depois que o tradicionalíssimo Pagoda se entregou, a questão é saber – até quando?