Minha experiência em quarentena
Vez ou outra este colunista é provocado por algum amigo: como alguém, que desde criança frequenta bons restaurantes, estaria se adaptando a permanecer indefinidamente trancafiado em casa? Sem as habituais opções de comer fora, com pouco trabalho a fazer, sem clube para frequentar, sem futebol a assistir na tevê… Não, não tem sido fácil.
Especialmente porque nosso Pedro tem apenas dez anos, algumas horas ocupadas por videogames com amigos e aulas à distância do Cali ou do Anchieta, a companhia da Andréia – isso quando ela não está trabalhando ou abastecendo a casa. De resto, fica tudo comigo, do almoço de todos os dias ao futebol da tardinha no terraço, felizmente amplo o suficiente para um gol a gol com rebotes.
Depois dessas várias semanas de confinamento, começa a faltar inspiração na cozinha e a gente se obriga a priorizar a praticidade. Parece incrível, mas até agora a churrasqueira permanece intocada ao lado do cooktop – visitas estão vedadas. E como delivery raramente usamos (veja exceções na seção ao lado), assumi de vez panelas e caçarolas.
Um quilo de siri, devidamente refogado e temperado, rendeu alguns ramequins (foto acima), mais um refratário que já saiu do forno consagrado pelo aroma e pelo sabor e ainda, no dia seguinte, um pastelão delicioso. Domingo um filé de salmão, alto, lindo, foi polvilhado com um tempero que sempre trazemos da Flórida, selado em azeite, coberto por alho picadinho e cebola em lâminas já fritos, pimenta biquinho e azeitonas recheadas com pimentão, antes de ingressar no forno por 12 minutos – veja uma porção na foto ao lado.
Risoto? Claro que sim, com funghi secchi hidratado em espumante, tomate seco, finalizado com rúcula, manteiga Aviação e Parmesão ralado, arroz rigorosamente al dente – olhe aí na foto.
E como tivemos que cancelar viagem a Garopaba, nosso freezer ficou sem camarões. Por sorte achei, congelada, uma sobra do molho em que os costumamos cozer – com dendê, leite de coco, tomate, vinho branco e temperos. Foi hora de aproveitar um talharim verde trazido de Gramado e um molho de tomate com lula, mexilhão e vôngole, que o Zaffari importa da Itália. A combinação dos dois molhos ficou perfeita, a massa também – de amostra, temos a foto abaixo.
Privação de liberdade, embora por motivos justificados, é algo duro de enfrentar. Mas, reconheço, até que estamos indo bem, saborosamente. Concordam?