Meus 21 anos no JC
Quando comecei em Zero Hora, em setembro de 1974, às vezes eu mencionava que escrevia sobre gastronomia e havia quem se encantasse – “Que legal, tens telescópio e tudo”?
Afora a equipe da revista Quatro Rodas, Paulo Cotrim no Jornal da Tarde de São Paulo, Apicius no JB (do Rio) e este colunista, acho que ninguém mais fazia roteiros e críticas sobre restaurantes no Brasil. Aos poucos as pessoas começaram a entender o vocábulo e dar mais atenção ao tema. Cresceram as exigências com o que vinha às mesas, assim como o número de opções na cidade. Eu mesmo precisava viajar menos a Buenos Aires e São Paulo, em busca de refeições diferenciadas.
Depois criei a seção Homem na Cozinha, em que apresentava personalidades e suas receitas favoritas – ou seja, os gaúchos eram motivados a saírem da frente das churrasqueiras e assumirem também panelas, fôrmas e caçarolas. Surgiram as confrarias masculinas – algumas batizei e ajudei a fundar –, criei a Caravana Gastronômica, formada para, em grupo, testar restaurantes.
Alguns anos mais tarde os vinhos também entraram em minha pauta (Adega), assim como cervejas, bons destilados e coquetéis. Essas seções – e mais uma dezena de outras – têm desfilado alternadamente na contracapa do Viver, caderno do Jornal do Comércio, desde 21 de julho de 2000. Coube a meus editores o lembrete – “Temos que registrar essa maioridade, 21 anos é tempo”.
É mesmo. Hoje, se falta assunto, sobra quem escreva sobre esses temas, se fazem negócios a partir de variadas plataformas, supostos influenciadores expõem imagens e elogios a pratos – e aos chefs que os remuneram.
Confesso que essa mixórdia me cansa um pouco. Todo esse contexto acaba rompendo a tênue linha entre mera publicidade e o jornalismo que exerço criteriosamente, com seriedade. Apesar da leveza do assunto, hoje dá muito mais trabalho escrever sem ser confundido.
Aqui se procura preservar a isenção, o direito à crítica, a informação que possa interessar aos leitores, não apenas aos que a querem divulgar. Talvez esse princípio esteja ficando démodé – ou melhor, cringe como se diz agora. Se for o caso, me avisem.
Paro de escrever, mas mudar não mudo.