Mesas nas calçadas

Eles são 20, alguns eleitos vereadores, outros meros suplentes e acabam de colocar Porto Alegre na contramão do planeta. Aprovaram uma lei que autoriza comerciantes a sepultarem inteiramente as calçadas com mesas e cadeiras e mantê-las assim até 2h da madrugada. Você leu certo, a Câmara Municipal decidiu privatizar o uso do passeio público, já abusivamente utilizado com a tolerância da Prefeitura, e decreta que moradores das proximidades desses estabelecimentos só poderão dormir após 2h da madrugada.

Até essa hora terão de tolerar conversas em altas vozes, discursos de um ou outro bêbado daqueles bem chatos e repetitivos, gargalhadas – com uns traguinhos a mais alguém precisa contar piadas, certo? –, algazarras, reclamações na hora de fechar a conta, brigas e todos os inconvenientes embutidos nessa absurda situação. Tudo isso até a madrugada, como se ninguém trabalhasse no dia seguinte, como se todos tivessem a vida mansa daqueles políticos que desfrutam o mórbido prazer de, quase diariamente, através dos noticiários, nos indignarem com a revelação de novos privilégios e pesadas falcatruas.

Para felizardos que ainda não têm um bar junto à sua calçada, um lembrete: a qualquer momento uma pequena e inofensiva garagem pode se transformar em animado estabelecimento, com duas ou três mesas em seu interior e outras dezenas sobre a calçada. Investimentos e impostos são proporcionais à parte de dentro, lucros e perturbação do sossego têm as dimensões da parte de fora.

Aos que ameaçam com perda de empregos, digo que, se existe público, esses empregos serão preservados e a demanda atendida em bares com revestimento acústico, sem horário para fechar. É mesmo incrível que a Prefeitura faça um gigantesco esforço para livrar as ruas de camelôs e entregue as calçadas a comerciantes, que não pagam um centavo de aluguel e impostos para ocupar o espaço que deveria ser público.