Marcos Botton
Esta semana ele palestrou, conduziu a costumeira degustação de vinhosque ocorre nesses encontros na Fundação Ecarta e reavivou um temainóspito e ainda assustador para os produtores de vinhos: a filoxera. O nomedesigna tanto o inseto quanto a doença que provoca, ambos atualmentepresentes em todos os continentes, mas sob rigoroso controle.
Nem sempre foi assim: ao final do século 19 proliferou de tal forma que entrou para a história como a praga maisdevastadora da viticultura mundial. Sua origem é norte-americana, seus efeitos foram profundamente sentidos,interferindo na distribuição geográfica da produção vinícola, provocando uma crise global no mercado que durou quase 50 anos.
Botton é engenheiro agrônomo, pós-doutor em Entomologia, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho e respondeu assim os questionamentos desta página.
- Que danos causou e ainda pode causar a filoxera pelo mundo?
Há risco de elevada morte de plantas, como ocorreu na Europa no século 18, quando o ataque do inseto praticamente dizimou os vinhedos: todos que eram cultivados com vitiviníferas de pé franco tiveram que ser erradicados e replantados com porta-enxertos resistentes. Isso representou um aumento significativo de tempo, energia e dinheiro para reestabelecer a viticultura nas regiões afetadas.
2. Os chilenos gostam de contar sobre os vinhedos de Carménère, devastados na França e sobreviventes no Chile, o quanto há de verdade nisso?
A história é verdadeira. A Carménère é sensível à filoxera se for cultivada como pé franco. Após a epidemia os vinhedos dessa variedade praticamente foram eliminados em território francês. No Chile, como a doença está ausente, é possível cultivar da mesma forma como era na França. Mas se ela aparecesse por lá, os produtores chilenos teriam enormes prejuízos. Em países como Austrália há grandes restrições ao transporte de material vegetativo infestado com a praga, em razão do risco que representa.
3.No Brasil a filoxera está controlada?
Temos convivido com a filoxera nos vinhedos, mas sempre há preocupação de que algum biotipo possa sobreviver nos atuais porta-enxertos e consiga passar na seleção. Situações como essas já ocorreram na Califórnia. O inseto é mais um dos desafios que os viticultores necessitam enfrentar para produzirem vinhos de qualidade.