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Duas perdas irreparáveis

Duas perdas irreparáveis

Se alguém me perguntasse sobre um lugar romântico para jantar no Dia dos Namorados, não hesitaria em recomendar o Lorita, com seus vários ambientes, cada qual mais charmoso. E se a questão fosse apenas indicar uma cozinha em nível de excelência na cidade? A resposta seria a mesma, o restaurante da chef Roberta Horn Gomes.

Seria, porque não mais pode ser. O Lorita fechou, como escancara a placa de “aluga-se” em frente à casa, “há umas três semanas”, como informa o zelador de carros, agora limitado aos clientes da Sakaes, bem ao lado.
LORITA - PARREIRA - CARMEM GAMBA (2)

Pior do que essa péssima notícia: outros restaurantes também serão imolados pelos efeitos da pandemia e das restrições que ela impõe. Não há como operar em pequenos espaços, sem poder reunir mais do que quatro pessoas em cada mesa e mantendo larga distância entre elas. Seria necessário derrubar paredes, ampliar prédios, projetar e redecorar tudo de novo.

Haverá exceções, mas a tendência é de que fiquemos relegados às grandes churrascarias e ao delivery. A alta gastronomia, da forma como a encontramos até março – tomara que me engane! –, essa vai embora de Porto Alegre por um longo tempo.

Falei em duas perdas, eis a segunda: Cacaia Bestetti decidiu não reabrir seu Café do Porto, histórico ponto de partida da Rua Padre Chagas, de encontro de gente elegante e animada, de importantes manifestações culturais.

Pouco a pouco, a rua que cheguei a comparar ao trecho mais nobre da Oscar Freire, em São Paulo, foi abrindo espaço a outro público, especialmente à noite. Descaracterizou-se, tornou-se vulgar, reuniu queixas de moradores e frequentadores quanto a bulício e arruaças, sei lá no que pode se transformar daqui em diante.

Devo registrar que Cacaia, sem chegar a detalhes, promete recriar o Café do Porto no mundo digital. Serve de consolo.

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