Comida de rua
O Posto do Avião ficava no terreno onde hoje está o prédio dos Correios. Era uma mal acabada réplica de um bimotor, pintada em branco e marinho,onde os carrões da época abasteciam. Na rua ao lado, ao anoitecerestacionava diariamente uma pequena caminhonete, na qual se vendiamcachorros-quentes, com molhinho de tomate e mostarda. No entorno da Praça XV havia algumas carrocinhasvendendo algo parecido (“salsicha ou linguiça?”, perguntava o cara, enquanto manuseava pão, dinheiro e sabe-semais o quê), mas aí precisava ter coragem para encarar.
Lembro-me da primeira vez em que pisei em Miami, incentivado pelo saudoso Clovis Duarte, um entusiasta dosencantos da Flórida desde que aquilo era um imenso pantanal. Recomendado por ele, na movimentada esquinaonde antes havia a Victor’s – loja de brasileiros que vendia toneladas de eletrônicos a seus compatriotas –, degusteium hot dog em nome da tradição: quem o fizesse, certamente voltaria à cidade. Retornei uma dúzia de vezes,embora hoje aquela área ostente ares de abandono e até de risco à segurança.
Nova Iorque, bem, lá a vida inteira houve vendedores de hot dogs (com repolho ou chucrute) pelas esquinas. De início eu não compreendia: uma fila, composta por jovens e senhores engravatados, por damas de tailleur e raros turistas, se formava no horário de almoço – e o cardápio era aquele mesmo. Em Paris se encontram crepes por toda a cidade, pequenos estandes com opções semelhantes, embora de um para outro, na mesma avenida, haja diferença na higiene e no capricho da preparação.
Os food truck, que hoje pipocam mundo afora, divulgando a moderna comida de rua, nada mais são do que um sofisticado sucedâneo desses lanches de sempre, que nasceram e sobrevivem graças à pressa imposta ao nosso cotidiano. Pode não ser a maneira mais confortável de almoçar, mas o up grade ora alcançado por esse estilo de alimentação parece estar apenas decolando. Vai voar alto.
Tanto que irá merecer um segundo capítulo dessas considerações, em uma próxima semana. Ah, na foto está um exemplar do Senhor Garibaldi, autointitulado o primeiro cachorro-quente gourmet de Curitiba.