Crônica de uma morte anunciada
Foi na sexta-feira passada que resolvemos passear, ao final da tarde, pelas áreas mais badaladas do Moinhos de Vento. Viemos pela antiga Passarela da Fama da Rua Fernando Gomes, onde tudo começou, com papel fundamental para o Jazz Café. Ali não restou absolutamente nada: na quadra onde ficavam Constantino, Dado Pub e outros, os tapumes confirmam o que se anunciou em março – um grande empreendimento imobiliário. Na quadra mais próxima da Rua 24 de Outubro, chega a dar medo: tudo está para alugar.
Contornando a esquina, ingressamos na antes movimentada Rua Padre Chagas: do que existiu em seu primeiro quarteirão, restaram um cabeleireiro, uma papelaria e uma minúscula sorveteria. Até mesmo o Mulligan não dá sinais de vida. Na quadra seguinte, o mesmo ocorre com o Orquestra de Panelas; Amêndoa e outros estabelecimentos fecharam as portas em definitivo, acumulam-se placas de “aluga-se”.
Um desconsolo, cenário que a bagunça instalada em anos anteriores no leito da rua e nas calçadas – e aqui repetidamente criticada – permitia antever e que a chegada da pandemia se encarregou de apressar.
No quarteirão seguinte convivem crianças vendendo panos de pratos, uma permanente convenção de motoboys aguardando frete, uma ou outra portinhola vendendo cerveja, cachorros farejando gente nas cadeiras das calçadas e alguns locais de lanches rápidos que, esses sim, têm a ver com o padrão de público que os bons comerciantes desejam.
São os hambúrgueres do Press, o Z Café e o Deu Crepe, onde nos refugiamos, na parte interna. Já o elogiei no verão passado, tem 14 ótimos crepes, como o Londres que degustei – rosbife, Mozzarella, Gruyère, chutney de tomate, rúcula e crispy de alho-poró (R$ 28,00, em porção simples).
Ou um duplo Parisiense, como esse da foto, com cogumelos Paris, Brie, rúcula, Mozzarella, molho de mostarda e mel (R$ 27,00).
Se ao anoitecer a Padre Chagas é assim, o que sobra para depois? Outro público, certamente bem diferente do desejado para um bairro que já foi elegante e bem frequentado.