Cinco restaurantes e um bebê
Os critérios podem não ser os mesmos – nem todo mundo viaja com um bebê, como nós – mas imagino que o relato sirva a quem estiver pensando em uma escapada ao Rio de Janeiro, prefira não usar automóvel em seus deslocamentos e queira, ainda assim, fazer boas refeições. Com um planejamento cuidadoso e dias ensolarados como tivemos, o carrinho do baby é tudo o que se precisa.
A ideia era ficar de frente para o mar, em uma praia menos movimentada, mas com toda a estrutura nas proximidades. Depois de uma década sem ir ao Rio, escolhi o Othon Palace do Leme (av. Atlântica 656). Longas caminhadas no confortável calçadão (quanta diferença em relação a empurrar carrinho nas intransitáveis calçadas do Moinhos de Vento), praia do outro lado da avenida, um bistrô muito bom no térreo do hotel (outro dia eu comento) e era isso.
Não apenas isso: a meia quadra, na rua de trás (Gustavo Sampaio 610) fica o Shirley, com seus frutos do mar bons e baratos – tão pequenino e atulhado de mesas que o carrinho não entrava, impossível matar a saudade do restaurante. Na av. Atlântica 514, a meia quadra do hotel, há a Trattoria Da Brambini, onde experimentamos uma razoável vitela com talharim e escalopes de filé em um tanto ralo molho Marsala. Com um ótimo couvert e mineral, custou R$ 145,00 para duas pessoas.
Um quarteirão adiante está o tradicionalíssimo La Fiorentina (esse filé à milanesa com arroz à grega almocei lá depois da praia, custou módicos R$ 38,00), com paredes e cardápios repletos de autógrafos de atores, atrizes e músicos famosos, que frequentavam o lugar – antigamente o colunista também ia, avistava Vera Fischer e babava na gravata. Agora tem mesas também sobre o calçadão e mantém um jeito (garçons de paletós brancos, maître de terno preto) que me lembra o antigo Treviso, em Porto Alegre.
Por fim, na av. Atlântica 290 (tel. 21 2104-9000) fica o Marius. Conheci como churrascaria (hoje o rodízio custa R$ 97,00), depois agregou uma segunda opção: sequência de crustáceos, pela qual cobra R$ 150,00 (+ 10%) por pessoa. Três grandes salões mais o mezanino, decoração com móveis e objetos recuperados de antigas fazendas e embarcações, garçons trajados de acordo com a ambientação. O público é formado predominantemente por turistas de todo o planeta, que descem aos magotes de ônibus e vans e se deslumbram com o espetáculo de fartura oferecido.
Não é para menos. Há uma incrível coleção de entradas frias nos bufês – são dezenas delas, uma mesa com duas dezenas de pratos principais e acompanhamentos quentes, mais queijos e sobremesas em irresistível seleção. Os grelhados, esses vêm à mesa. Aí a coisa vai além de crustáceos, como impropriamente se denomina o rodízio. Sim, circulam bandejas repletas deles, sempre grelhados: lagostas, lagostins, grandes camarões brasileiros e indonésios, mas também uma boa variedade de filés de peixes. E carnes, igualmente franqueadas a quem optou pelo preço mais alto.
O Marius alardeia abastecer-se somente de gado Hereford orgânico do Uruguai, Nelore ecológico e Wagyu, do Japão – esta valiosa carne à nossa mesa não chegou, embora eu tivesse passado dos pescados para as carnes. A explicação parece ser a seguinte: é gente demais, variedade demais. Mesmo usando comunicadores para contatar a cozinha e o máximo de gentileza, os garçons não conseguem aparecer com o que se deseja no momento, seja uma picanha ao ponto ou uma lagosta.
Um erro incompreensível ocorre nos bufês: não há sequer uma travessa ou panela com seu conteúdo identificado – em um restaurante turístico, deveria haver etiquetas no mínimo bilíngues à frente de cada iguaria. Entre tantas possibilidades de preparação de ostras, mexilhões, mariscos, crustáceos, peixes, como saber a composição de uma entrada, ou o que exatamente está mergulhado naquele molho dentro da panela? Não há a quem perguntar: ao centro do bufê fica apenas um encarregado da reposição, devidamente amordaçado para não contaminar, ocupado demais para dar atenção a alguém.
Mesmo assim, é recomendável conhecer o Marius e tudo o que ele oferece. Como em qualquer rodízio, não se pode ter pressa: há décadas este colunista insiste – quem deve ditar o ritmo é você. Um ponto positivo em todos os restaurantes aqui citados é o horário civilizado: abrem ao final da manhã e fecham somente ao início da madrugada.