Deu zebra na degustação
Imagino – e apenas imagino, porque não presenciei – o espanto dos experts, ao ser anunciado o resultado da Avaliação Nacional de Vinhos 2010, realizada em Bento Gonçalves há 18 anos consecutivos. Entre tantos medalhões e rótulos consagrados, o vinho que obteve as notas mais altas foi o Moscato R-2 da Perini. E a vinícola informa que a amostra corresponde ao Jota Pe, vinho que pode ser adquirido por menos de R$ 10,00 em qualquer supermercado.
O leitor poderá supor que, se não houve algum engano de tabulação, há outros vinhos gaúchos que custam mais do que deveriam, certo? Bem, quanto à primeira hipótese, creio que podemos afastá-la – não soube de qualquer protesto formal contra o julgamento. Agora, como um vinho desse preço pode superar concorrentes que custam até cinco vezes mais…
Vamos começar lembrando que se tratava de amostras da safra 2010, cada uma delas coletada de tanques indicados pelos produtores. A partir daí as 260 amostras,inscritas por 55 vinícolas de sete estados brasileiros, foram lacradas e somente reaparecem nos cálices dos degustadores (primeira foto). Estes eram 15 enólogos, sommeliers e jornalistas especializados de Alemanha, Argentina, Brasil, Espanha, Estados Unidos, Inglaterra, Itália, Suécia,Uruguai, mais um representante do público, estimado em 750 pessoas.
Creio que a Perini, produtora do Jota Pe (no detalhe), deve mesmo comemorar essa estrondosa vitória. Se por um lado ela gera inquietude entre os produtores de rótulos consagrados – a própria Perini possui vinhos mais conceituados em seu portfólio –, por outro demonstra lisura e empresta credibilidade ao certame. Repito que foram analisadas apenas amostras retiradas dos tanques, não eram garrafas rotuladas e prontas para a expedição. Entre um tanque de vinícola e milhares de unidades que serão disponibilizadas no mercado, pode haver diferenças substanciais – até mesmo para melhor, mas diferenças.
Acrescento que 2010 não foi um ano comparável aos das safras mais felizes na Serra do Nordeste. E que o espírito dessa Avaliação Nacional – que contou com absoluta predominância de vinícolas da Serra Gaúcha – não deve ser decretar quem são os melhores, mas apresentar uma estimativa de qualidade da safra analisada.
Este colunista receberá prazerosamente opiniões discordantes.
