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O Joe’s não precisava fechar

Claro que conheci, tomei o milk-shake de chocolate, mastiguei a torrada de queijo e banana – antes ou depois de esperar a saída do Bom Conselho, após penosa caminhada desde o Colégio Rosário. Em sábados e domingos o local fervia a tarde inteira, a programação básica era cinema seguido de um lanche no Joe’s. Os que já tinham carro estacionavam livremente nos dois lados da Ramiro Barcelos, ou em torno da Praça Júlio.

Outros ficavam conversando na ampla calçada, esperando a vez de passar no caixa, receber o tíquete – ou seria ticket? Afinal, o inglês estava em quase todo o cardápio – e disputar espaço nas banquetas altas, facilitadoras da paquera. Os carros, vistosos, passavam lentamente, motoristas vendo e sendo vistos, no sossego das tardes porto-alegrenses fora do Centro.

Em dias úteis, desde o cair da noite viam-se conhecidos empresários – então muito jovens – estacionando bem na frente para fazer um lanche, ou descendo para comprar chocolates, jornais de Rio, São Paulo ou revistas do mundo inteiro no book shop do Gordinho, separado da lanchonete apenas por uma divisória de vidro, repartindo com ela o nome e a freguesia. Já neste século, mesmo enquanto foi governador, podia-se encontrar o cliente Germano Rigotto, vindo do palácio para lanchar rapidamente antes de chegar em casa.

Por que o Joe’s fechou? Bem, a vida em Porto Alegre mudou demais, o trânsito naquela área tornou-se infernal, proibiu-se o estacionamento, surgiram grandes redes de fast food, os shoppings tiraram das ruas o pessoal de maior poder aquisitivo e – alega o dono – o aluguel atingiu um patamar proibitivo. Esse conjunto de dificuldades me levou a pensar: mas se mudasse o ponto, oferecesse estacionamento fácil, segurança e o mesmo capricho na preparação dos lanches, não poderia reabrir?

Quem sabe? O nome Joe’s ainda é muito forte. Nós é que talvez já não sejamos os mesmos.

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