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O fenômeno da garrafa azul (final)

O fenômeno da garrafa azul (final)

Elas fizeram o maior sucesso no Brasil entre 1980 e 2000. No começo, as famosas garrafas azuis continham um vinho branco suave, o alemão Liebfraumilch, de Joseph Friederich. Depois esse leque se abriu, dando oportunidade a que outras marcas envasassem seus produtos nesses vasilhames, que exerciam inacreditável fascínio junto aos consumidores. Estes, como tinham dificuldade em pronunciar os nomes no idioma de origem,  iam logo pedindo “o vinho da garrafa azul”.

Os produtores brasileiros, num primeiro momento, rejeitaram o modismo, que surgia justamente quando eles investiam em tecnologia, lançavam dezenas de novos rótulos, alavancavam o que hoje corresponde à indústria vinícola no Brasil. Acabaram rendendo-se ao desejo do público e, na contramão do que gostariam, elaborando brancos suaves. Depois veio a rendição incondicional: passaram a comercializar esses vinhos também em garrafas azuis.

Por essa época, dos 24 milhões de garrafas de vinho que o Brasil importava, 14,4  milhões eram do Liebfraumilch, branco, suave e azulzinho da silva. No Brasil, eram produzidos rótulos como o Katzemberg, da Aurora. A Salton começou importando garrafas azuis do Uruguai, nelas engarrafando um branco aromático e doce. Depois, criou o Rannish Wein (foto), que no início deste século  chegou a vender 2,400 milhões de unidades por ano. Foi o auge das vendas, que em 2008 chegaram somente a 720 mil garrafas, a maior parte consumida em eventos como formaturas e nos bufês de São Paulo e Rio.

A Salton decidiu descontinuar a produção do Rannish Wein e voltar seus olhos para vinhos mais modernos, suaves ou demi-secs, destinados àquele público. Mas aposto que não se queixa do faturamento atingido, nesses anos todos, com as garrafas azuis.

Um flash-back ao início da história, para chegarmos ao responsável pelo boom desses vinhos e de suas coloridas garrafas: seu nome é Otávio Piva de Albuquerque, importador do Liebfraumilch desde a década de 1970. Foi ele quem convenceu o pessoal da Josef Friederich a envasar  o vinho em garrafa azul, especialmente para o mercado brasileiro.

Isso foi apenas o começo: durante o governo de Collor, quando foram derrubadas as barreiras à importação, o empreendedor fez deslanchar sua Expand Importadora, que tornou-se a maior do Brasil. Interessante é que no site da empresa, ao lado de poderosos rótulos do mundo todo, ainda figura, meio escondidinho, cotado a modestos R$ 15,40, o Liebfraumilch. Em sua característica garrafa azul, como há quase 30 anos.

Vinho_Fino_Branco_Suave_Rannisch_Wein_(AR)

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